Já faz um tempinho que li pela primeira vez este texto de
autoria da Magali Moraes e não me canso dele, é tão verdadeiro e importante que
faço questão de compartilhá-lo com vocês.
Peço licença para fugir um pouco da “temática” do blog e dar
asas a estas palavras inspiradoras, afinal, o que seria desta vida sem nossas
amigas de todas as horas?
“Escrevo este texto ainda sob efeito de um almoção com uma
amiga. Eu poderia abrir o zíper do jeans para me recuperar do banquete. Só que
nem me lembro da comida, provavelmente comi pouco, porque meu estômago acabou
de roncar. O que estou digerindo até agora é a quantidade de coisas que
contamos uma para a outra.
Peraí. Por que mesmo a gente ficou tanto tempo sem se ver?
Não faço ideia. Foi um mês ou uma eternidade? Ver no
Facebook não conta. Prefiro o sentido literal do verbo, aquela alegria de
enxergar a amiga sentada na frente, olho no olho, rímel no rímel, sem nada para
fazer a não ser prestar atenção e não perder o fio da meada. Duas mulheres
conectadas feito um celular que sai do modo avião e finalmente encontra o sinal
da operadora. Falando, ouvindo, falando, ouvindo. E a comida de coadjuvante na
história.
Desculpe, saladinha, mas a fome era de amiga. Não podíamos
desperdiçar um raro momento como aquele. Pulamos direto para o que interessava:
a atualização imediata de tudo o que ficou para trás.
Tem amizades que hibernam sem motivo aparente. Ou por
vários, como trabalho, estresse, viagens, filhos, faculdade, namorado, marido,
problemas de saúde, confusões de família. É Justamente para administrar o
overbooking da vida que a gente precisa das amigas. São elas que nos escutam e
nos aconselham a sobreviver com dignidade. Não adianta comprar cremes caros se
a testa segue franzida.
Quando duas amigas decidem recuperar o tempo perdido, sai de
perto. Se a amizade é das boas, se as verdade podem ser ditas é só se
reencontrar para que tudo volte automaticamente. A afinidade, as confidências,
a sensação reconfortante de estar junto dessa pessoa que você escolheu para ser
sua amiga. Isso, sim, é alimento.
Então, um almoço parece pouco. E injusto. O assunto
acumulado daria para esticar em linha reta e ir daqui até a Lua. Ou, vá lá,
esticar a sobremesa durante a tarde inteira. Uma conversa entre amigas vai
abrindo parênteses, formando novos parágrafos, organizando o pensamento e
desestressando mais que shiatsu Express. Por via das dúvidas, é melhor colocar
um alarme na agenda para repetir todos os meses: não posso ficar longe dessa
bandida, não posso, não posso.
A gente gasta energia para conquistar tantas coisas. Mais
respeito no trabalho, mais milhas e viagens, mais porta malas no carro, mas it
bags e it shoes, mais regalias com o gerente do banco, mais convites para
festas, mais isso e aquilo. Conquistar até é fácil, quero ver você ser boa no
reconquistar. Precisam sentir o perfuma umas das outras. Garanto que tem alguma
amiga sua esquecida na prateleira mais alta e inacessível do closet. Pegue uma
escadinha, um trem, um navio, um barco a remo, e vá ao seu alcance.
O problema de um almoço tão clarividente e oxigenador como
esse é que a gente se lembra das outras amigonas que também não vê faz tempo.
De novo: ver de enxergar na frente, de esticar a mão e tirar um fio de cabelo
que caiu no rosto. E são muitas amigas, para a felicidade desta que vos tecla.
Bate uma saudade coletiva tipo jogo de dominó. Quantas peças importantes eu
deixei cair e não juntei?
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